Mensagem de Natal


EDITORIAL

Natal é uma festividade com enorme tradição em Portugal e em muitos outros Países da Europa.
Em cada região há características próprias, mas a Árvore de Natal, os encontros, as prendas marcam o Natal por todo o lado, não nos podemos esquecer que a Missa do Galo é também uma tradição muito enraizada nas famílias principalmente nas aldeias. Costume este que vem da Idade Média
Pois era habito preparar um galo especialmente para cantar na Missa da meia-noite. Daí a expressão de “ Missa doGalo ( ad Galli Cantum).
Ao elegermos a Poesia de Natal prestamos Tributo, ,elegemos dois trajectos um a Poesia de Natal e o outro um pequeno conto de Natal cheio de veracidade e ternura escrito por uma amiga Etelvina Sá.
E quem é que não aprecia toda a magia que a quadra do Natal nos trás?...
Vamos esquecer o Natal que nos querem impor todo ele embrulhado em extravagância e espírito de consumismo e comércio. Todos sabemos que isso não é Natal. Vamos recuar alguns anos quando as nossas ilusões e sonhos eram uma constante das nossas vidas e aí encontraremos a magia e o espírito de Natal.
Fala-se tanto no Natal, da Árvore de Natal, do Pai Natal inventado pela Coca-Cola que por essas varandas anda armado em trepador. Iluminado e que agora é o símbolo Máximo do Natal…
Tenho saudade desses tempos em que o meu Natal era de facto magico, a noite toda azul escuro, com muitas estrelas e o perfume a pinheiro e abeto era uma constante, onde tínhamos sempre um presépio muito “naif” que era todo meu encanto.
Nesta nossa “Noite de Poesia” tivemos belíssimas poesias e a voz mágica do Cantor Filipe Navarro que nos trouxe belas canções que as acompanhou ao piano
Desejamos que o Menino Jesus nos traga um óptimo Ano de 2008.

Carmen Navarro

A TAL SENHORA

Soube depois, muito tempo depois
Era já tarde. Demasiado tarde
E essa dor, mais do que magoar, arde.
Soube que ELA há muito vivia com o meu pai
Com ele partilhava a cama e a mesa
Baralhava-lhe os sentidos e os passos
As palavras, os amores, os sentimentos
Comandava os seus sorrisos e os seus lamentos
Marcava-lhe o tempo e o compasso de dança
E transformou meu doce pai, uma desafinada criança
Tornou-se dona e senhora do seu espaço
Asfixiou-o com a traição de um abraço
E fez dele um ser ausente, amordaçado
Soube depois, muito, muito tempo passado
Que, A TAL SENHORA, com nome masculino
Que, a meu pai; tudo roubou até o tino
Que tantas vezes nos desesperou
Que tanto fez sofrer quem tanto nos amou
Que nos obrigou a desejar a morte
Em troca de tão malfadada sorte
A TAL SENHORA, de nome masculino
Disse-me depois, já muito perto do fim
Que, se calhar, me fará o mesmo, a mim.
Chama-se Alzheimer. Não mata mas é doença
E magoa muito mais do que se pensa.
Anda por aí, impunemente à solta
Destruindo tudo e todos à sua volta
E, a impotência que sentimos, perante tal dor
É, proporcionalmente igual, ao dobro do nosso amor.

Maria de Lourdes dos Anjos
Outubro de 2006
Mater Dolorosa

A Mãe do Poeta chora
E a sua canção inquieta
Parece pedir perdão
Aos homens sem coração
Por ter um filho Poeta...

Na praia, em pequeno, um dia
Meteu-se à onda bravia
Que, à das águas, trazia
Um peixe cor do luar...
Mas a onda fez-se mansa.
Teve dó dessa criança
Cujo crime era sonhar!

Certa noite, à sua porta,
Vieram cantar os Reis-
Ai! a de branco! a de branco!
Fulvo cabelo aos anéis...
Flor, entre os dedos, singela...
E ele, então, logo perdido,
Foi pela rua, atrás dela.
No rastro do seu vestido...

Aos vinte anos, cismador,
Esqueceu que havia as Sortes.
Magrinho, falho de cor...

Por isso, os mais, que eram fortes
(Os que tinham ido às Sortes!)
Lhe chamam desertor.

Em tardes de romaria,
Todo o mundo o viu bailar!
Quando o seu corpo bulia,
Subiam torres ao ar...
Por fim, calava-se a dança.
E ele, de novo, a criança,
Que a onda brava, depois mansa,
Recolhera no caminho...

Formou-se em Doutor de Leis.
Que pode a idade e os estudos?
Seus olhos ficaram mudos
À letra fria das leis.
Seus olhos só viam dança...
Se ainda era a mesma criança
Que ouvira cantar os Reis!
E a mãe do Poeta chora.
E a sua canção inquieta,
Perece pedir perdão
Aos homens sem coração
Por ter um filho Poeta...

Pedro Homem de Mello
Cantiga

Se os meus olhos te incomodam
Quando estou na tua frente
Desde já posso arrancá-los
Para te amar cegamente.

Seja o que for, não me importa,
Mas sei que não é por mim
Que os teus nervos adoecem
E andam sem governo, e assim...
Outra vida, não a minha,
Outro abraço e outro beijo
Te perturba e te desvaira
- Não mintas!, porque eu bem vejo!
Mas, continua, vai indo
Sim, vai até te cansares!,
Para ver o que tu contas
Se algum dia me voltares!

Não te incomodes comigo.
Nas lágrimas também há
Satisfação e conforto;
Nem tudo o que alguém nos mata
Fica perdido ou é morto.
O coração ressuscita
Muita coisa que julgámos
Esquecida para sempre
Nas sombras da realidade;
O coração tem uma vida
Que pode tudo no mundo,
Chama-se apenas: Saudade!

Com ela é que eu vou vencendo
Este grande desalento
Que apaga os gritos da carne
Em falas do pensamento!
Agarro-me às sensações
Que foram o dia de ontem
- Felicidade sem névoa
Dos nossos dias felizes!
E fico a chorar de raiva
Por não ver bem a mentira
Que há nos silêncios marcados
De tudo quanto me dizes!

Acabou-se. E tu desculpa.
Falei, agora, e não digo
Nunca mais uma palavra
Acerca do nosso amor.
Fica por lá se quiseres
Até mudares ou seres
Numa nova reacção,
Límpida, pura, fremente,
Outra tortura presente
Na minha humilde paixão!
Outro céu, outro destino,
Ou outra condenação!
topo

Anda vem...

Anda vem..., porque te negas,
Carne morena, toda perfume?
Porque te calas,
Porque esmoreces,
Boca vermelha rosa de lume?

Se a luz do dia
Te cobre de pejo,
Esperemos a noite presos num beijo.
Dá-me o infinito gozo
De contigo adormecer
Devagarinho, sentindo
O aroma e o calor
Da tua carne, meu amor!

E ouve, mancebo alado:
Entrega-te, sê contente!
Nem todo o prazer
Tem vileza ou tem pecado!

Anda, vem!... Dá-me o teu corpo
Em troca dos meus desejos...
Tenho saudades da vida!
Tenho sede dos teus beijos!

António Botto